Resenhas dos álbuns selecionados para o mês de Maio de 2017.
Postado em 14 de março de 2017 @ 21:43 | 1.374 views




Metallica – Hardwired… to Self-Destruct

A despeito da tendência da comunidade metal de julgar como melhor o que foi feito no passado, “Hardwired… to Self-Destruct” é tão relevante na discografia do Metallica quanto seus grandes clássicos. Tão quanto os primeiros cinco discos, esse é um álbum do mais alto nível de excelência. Em todos os sentidos. As composições, sem nenhuma exceção, de “Hardwired” a “Spit Out The Bone”, são de muita qualidade e demonstram que James Hetfield e Lars Ulrich recuperaram a coesão criativa que exerce influência não somente no universo simbólico do Metallica, mas em todo esse movimento cultural. “Hardwired… to Self-Destruct” é criativamente relevante. Em sua unicidade traz pluralidade para uma tradição quase esgotada.
Aqui o Metallica dialoga com suas influências de uma maneira muito honesta, talvez como nunca o fez antes, de forma que Black Sabbath, Iron Maiden e Thin Lizzy são nomes que vêm à mente durante toda a audição, sem mencionar o Motörhead de Lemmy Kilmister, personificado em “Murder One”. E mesmo que se possa considerar o Metallica um grupo partidário do neoliberalismo, nascido  das mãos de um filho de tenistas dinamarqueses ricos e que até hoje se mantém entre os poderosos com um patrimônio líquido estimado em 300 milhões de dólares, em nenhum momento, nem em uma só nota, transparece qualquer intenção de entorpecer o público com formas fáceis e repetitivas, recurso este usado tanto pela famigerada indústria da música quanto pelos seus opositores do underground não dotados de criatividade. A essa análise ainda desejo acrescentar que a avaliação desse álbum como o melhor lançamento de seu segmento em 2016 não é influenciado pelo fato de que “Hardwired… to Self-Destruct” seja um autêntico disco de heavy metal.  A meu ver artistas não deveriam nunca estabelecer relações de fidelidade com estilos, estéticas ou, até mesmo, com público, mas, única e apenas, com sua subjetividade e desejo de expressão. Só assim uma obra artística pode ser sincera, sem interferências nocivas. Eu sinto e ouço verdades em “Hardwired… to Self-Destruct”. O tempo todo. Se “Load” ou “Reload” foram trabalhos artísticos sinceros ou não, é fato que no seu aspecto mercantil conseguiram projetar uma banda de metal para um patamar no show-business nunca antes alcançado. Isso permite ao Metallica ser a maior banda de heavy metal da história (não antropologicamente). Nietzsche errou, deus não está morto.

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Fates Warning – Theories Of Flight

Com frequência encontro textos que atribuem a qualidade de banda subestimada ao Fates Warning. Por quê? Talvez pelo fato de não terem o mesmo sucesso comercial que o Dream Theater! Mas o que isso importa? Em 35 anos de carreira, tudo o que o Fates Warning fez foi escrever e lançar álbuns que são os melhores e mais importantes da categoria metal progressivo. Nunca lançaram um segundo de música que tenha colocado sua qualidade ou relevância artística em dúvida (e incluo aqui os três primeiros com John Arch que não são meus preferidos). “Theories Of Flight” é mais uma obra maiúscula da banda. O álbum permite que Jim Matheos mantenha a posição de melhor compositor nessa estética metal progressivo, e Ray Alder de melhor vocalista (beirando 50 anos, hoje ele não canta tão alto como quando entrou na banda aos 20, mas isso não interfere em seu desempenho). Esse texto superestimado não é contrapartida às opiniões de que eles sejam uma banda subestimada.

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Kansas – The Prelude Implicit

Logo nas primeiras notas de “With This Heart” vem aquela sensação de encantamento que as músicas do Kansas proporcionam. No decorrer do álbum essa sensação vai aumentando, aumentando e sou tomado por uma alegria de viver, um sentimento de gratidão pela existência.  Bandas como o Yes e o Kansas são mestres nisso. Deveriam ser ouvidas por mais pessoas nesses tempos de ódio. “The Prelude Implicit” é o Kansas nessa essência, e isso nunca deveria ser mudado, mas a impermanência, a transformação, é quase via de regra para esses músicos geniais do rock progressivo clássico. De forma que o álbum tem momentos dos mais diversos, como o rock contemporâneo pesado de “Rhythm in the Spirit”, o que traz dinâmica na visão macro e faz valorizar ainda mais os movimentos mais suaves e delicados. E os refrãos! Ah, os refrãos… Sabe aquela sensação de gratidão pela vida? Pois bem, ao ouvir o refrão de “Camouflage” (Learning to hide in obscurity / Hopin’ no one can solve your mystery…) é possível experimentar a sensação de se tornar uno com o viver, para além do nascimento e morte.

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Flotsam and Jetsam – Flotsam and Jetsam

O Flotsam and Jetsam é muito mais do que a ex-banda de Jason Newsted ou do que seu álbum de estreia, “Doomsday For The Deceiver”. O Flotsam também assina outras excelentes obras do metal como “No Place For Disgrace” (1988), “When The Storm Comes Down” (19990), “Cuatro” (1992) e “High” (1997), todos excelentes e dignos de infinitas audições. E da mesma forma é o novo trabalho autointitulado. Aqui o grupo mantém sua estética musical moldada a partir da mescla de metal tradicional e thrash metal, com os vocais únicos e inconfundíveis de Eric “A.K.” Knutson. O grupo esbanja em qualidade, energia e alto astral. “Seven Steal”, “Taser”, “Iron Maiden” (sim, é o nome da música), “Verge Of Tragedy” e “Creeper” são os destaques.

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Voivod – Post Society

Li uma colocação que dizia que “Post Society” poderia ser encaixado entre “Dimension Hatröss” (1988) e “Angel Rat” (1991). Eu concordo. E isso não deveria ser tomado a partir de um ponto de vista pejorativo, uma vez que o Voivod continua soando como uma banda a frente do seu tempo. Mas houve um resgate estético daquela mistura tão particular de thrash metal e rock progressivo. E com a mesma qualidade! O que faz desse um trabalho de grande relevância, especialmente se considerarmos a ausência do mastermind Piggy (falecido em 2005), e também o fato de “Post Society” ser um EP. Sem considerar o cover do Hawkwind, o Voivod fez em quatro músicas o que muitas não conseguem em dez ou vinte. O Voivod é mesmo a banda mais genial do metal. Ou seria do progressivo?

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Metal Church – XI

Depois do genial David Wayne (RIP), Mike Howe é “o vocalista” do Metal Church em minha opinião. E seu retorno a banda certamente contribuiu para que “XI” possa ser considerado um dos melhores trabalhos do Metal Church de todos os tempos. Músicas como “Reset”, “Killing Your Time” e “Needle & Suture” nos remetem a clássicos da era Howe como “Date With Poverty”, “Badlands” e “In Harms Way”, porém com produção contemporânea.

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Vicious Rumors – Concussion Protocol

De “Digital Dictator” (1986) a “World Of Mouth” (1994) o Vicious Rumors lançou obras-primas universais da música pesada. De todos os tempos. O núcleo artístico responsável por esses trabalhos era fundamentado entre dois talentos, o do guitarrista e fundador Geoff Torpe e do vocalista Carl Albert. Por mais que, em termos de composição, Geoff Torpe sempre exercesse a liderança, o talento de Carl Albert não era desse mundo. Com todo respeito, mas suas qualidades, sejam do ponto de vista técnico ou artístico, poderiam ser comparadas a de Ronnie James Dio, por exemplo. A morte de Albert foi uma perda irrecuperável. Nunca mais o Vicious Rumors soará como nos quatro álbuns que compõem esse período. Mas, devo admitir, “Concussion Protocol” chegou bem perto! É um álbum digno desse legado. Geoff Torpe deve ter aproveitado alguns riffs compostos nessa época, só pode! Provocações a parte, o principal mérito de “Concussion Protocol” não é o de remeter ao passado, pelo contrário, mas o de traduzir uma tradição ao momento presente. “Chasing The Priest” e “Take It Or Leave It” são muito contemporâneas, exemplos desse power metal moderno que o grupo faz hoje. Já a maravilhosa “Circle Of Secrets” poderia estar em “Welcome To The Ball” de 1991. E por mais que o novo e jovem vocalista Nick Holleman seja também dotado de muito talento, é impossível ouvir essa música sem deixar de imaginar como ela soaria muito melhor na voz de Albert.

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Steve Grimmett’s Grim Reaper – Walking in the Shadows

Que notícia ruim foi a da amputação da perna de Steve Grimmett e o cancelamento dos shows no Brasil. Eu estava eufórico para poder assistir esse show. Primeiro por ser um grande fã do Grim Reaper e não ter tido a oportunidade de ver a banda antes, seria a chance para ouvir algumas das minhas prediletas que ele estava tocando nessa turnê como “Lust For Freedom” ou “Suck It And See”, mas também de curtir algumas desse novo álbum que está demais! “Walking in the Shadows” é baseado na mesma estética Hard/Heavy do “Rock You To Hell” (1987) ou do disco de estreia do Lionsheart, porém com produção contemporânea. A faixa título, “Reach Out”, “Temptation”, “Thunder”, “Now You See Me” e “I’m Coming For You” são os destaques, todas com refrãos fortes e melódicos. Contrapondo o título, “Walking in the Shadows” é um disco bastante solar, com um astral altíssimo. Que a luz de sua música possa iluminar o caminho nessa nova etapa da vida de Steve e que ele retorne logo ao nosso continente.

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David Crosby – Lighthouse

A música e a poesia de David Crosby me levam a fechar os olhos e me sentir como se a música e eu fossemos uma mesma unidade. Os hindus dizem que Deus é som (AUM). David Crosby me faz acreditar em Deus. Não há necessidade de escrituras e nem de super produções. Apenas um violão e uma voz. “Croz”, de 2014, já havia me garantido muitas horas desse bem-estar espiritual. Agora com “Lighthouse” eu tenho motivos para acreditar que a vida é de fato bela e que toda espécie de infortúnio que um ser humano possa experimentar, seja no plano subjetivo ou no convívio em sociedade, são coisas tão pequenas que não merecem tanto nossa atenção como a arte merece. A música e a poesia de David Crosby podem mudar o mundo.

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Haken – Affinity

“Affinity” é o “Images And Words” do Haken, banda londrina de metal progressivo, a nova queridinha dos entusiastas do estilo. Esse já é o quarto disco dos caras em sete anos desde a formação da banda.  Fica evidente, durante a audição de “Affinity”, que trata-se de uma banda madura, com ideias muito relevantes e de notória criatividade. Os climas espaciais e atmosféricos são a essência da identidade musical do Haken. E é essa dimensão da música deles que justamente os distingue como um dos novos grandes do estilo. Se não fosse por isso talvez eles fossem mais uma banda de prog metal que “apenas” faz tudo da forma correta, como muitas por ai. O destaque para “Initiate” chega a ser obvio diante de seu simbolismo para o álbum. Banda criativa e moderna que mostra que nem todas as possibilidades, no metal, foram esgotadas. Quero ver quando lançarem o “Awake” deles. 🙂

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