Solid Rock (Deep Purple, Cheap Trick e Tesla) – Allianz Parque (São Paulo/SP) – 13 de Dezembro de 2017
Postado em 16 de janeiro de 2018 | @ 11:37


Por Eliton Tomasi

Apesar do evento ter nome próprio e atmosfera de festival, é fato que, para a grande maioria do público, o Solid Rock não era mais do que um show do Deep Purple com duas bandas de abertura. Talvez se o Lynyrd Skynyrd não tivesse cancelado sua vinda (motivado por doença da filha do vocalista Johnny Van Zant), o protagonismo do Deep Purple teria sido um pouco mais diluído.
Obviamente que o Deep Purple não tem nada a ver com isso, mas é lamentável que a maior parte do público tenha decidido deixar passar batido dois shows espetaculares de duas bandas excelentes que se apresentavam pela primeira vez no Brasil, o Tesla e o Cheap Trick.

Em 12 vezes que o Deep Purple visitou o Brasil, o grupo se apresentou em estádios apenas nessa oportunidade do Solid Rock e em 2003 (na turnê do álbum “Bananas”). Todas as demais, em São Paulo, foram em casas como Via Funchal, Credicard Hall e Olympia. Nesse show de 2003, no Pacaembu, ao lado de The Hellacopters e Sepultura, o público foi consideravelmente bem maior. A meu ver, três fatores foram providencias para isso: as bandas que completaram o line-up, momento econômico do país e o próprio momento do rock.

Se essa tem a intenção de ser a turnê de despedida do Deep Purple (The Long Goodbye Tour), tem sido também, em partes, da despedida do rock das grandes arenas. Alguns críticos já vinham sustentando essa posição há alguns anos, mas a questão é que hoje não se tratam de opiniões (pessoais), mas de evidências! Se em 2003 a produção do evento tinha uma banda nova para co-protagonizar um festival (Hellacopters), no Solid Rock a banda mais nova era o Tesla que já tem 37 anos de carreira! Entre o pequeno público presente no Solid Rock, era raríssima a presença de jovens e adolescentes.
Bandas como Metallica, AC/DC, Iron Maiden, Black Sabbath e Deep Purple é quem têm mantido o rock vivo nessas perspectivas de festivais e de shows em grandes arenas. Sem elas, os grandes custos de produções desse porte não são sustentados pelas demais atrações. Black Sabbath já se foi, Purple está indo e o AC/DC está todo desmantelado.

Quando entrei no Allianz Parque, cerca de uma hora antes do inicio do show do Tesla, a atmosfera de festival, ou mesmo de show, não existia. O entorno do estádio estava vazio, com pouquíssimos fãs, não existiam filas, nem mesmo vendedores ambulantes. Na sala de imprensa, apenas outros dois colegas. Ninguém mesmo queria ver o Tesla.

Pelo setlist recente de outros shows, estava esperando o Tesla entrar com “Into The Now” do disco de mesmo título lançado no Brasil em 2004 e que ouvi bastante. Mas “Edison’s Medicine” definitivamente foi uma melhor escolha. Os músicos não se deixaram abalar pela falta de público, e bastante conscientes de quem são e de onde estavam, foram de longe a banda mais animada no palco! Conseguiram convencer fãs xiitas do Deep Purple que, a partir de um desprezo inicial, passaram a reagir com grande entusiasmo a um setlist curto e eficiente, como deve ser. Para a primeira vez de uma banda, os destaques são obviamente os clássicos: “Love Song” e “Modern Day Cowboy”.

Pessoalmente, sou proporcionalmente tão fã do Lynyrd Skynyrd quanto do Cheap Trick. Como já tinha visto o Deep Purple algumas vezes, meu interesse maior no Solid Rock era inicialmente pelo Lynyrd Skynyrd, uma vez que perdi o show deles no SWU em 2011. Quando o cancelamento foi anunciado, minha reação foi triste e feliz ao mesmo tempo, pois ninguém menos que o Cheap Trick teria a função de os substitui-los. Nunca esperei ver um show do Cheap Trick, muito menos no Brasil! Sabe aquelas bandas que você meio que curte sozinho, pois a maioria dos seus amigos não conhece e não gostam muito? Pois é, essa sempre foi minha relação com os Cheap Trick.

O início do set fez parecer o show de divulgação de “In Color”, de 1977, com “Hello There” e “Big Eyes”. O público demorou a reagir, pois é fato que a grande maioria desconhecia a banda e as músicas, e o estilo do Cheap Trick passa longe do convencional, em termos de categorias pré-definidas. Num mesmo disco o Cheap Trick pode ir do punk ao hard rock sem medo de trair movimentos. Aliás, a lista de bandas que citam o Cheap Trick como influência fala muito sobre a relevância e diversidade de sua música: Mötley Crüe, Green Day, Nirvana, Extreme, Stone Temple Pilots, Weezer, apenas para citar alguns. Quando “The Flame” foi seguida de “I Want You To Want Me”, foi o momento mais marcante para mim. Para o público, no geral, a radiofônica “Surrender”, e “Dream Police”, ajudaram a manter os ânimos elevados para a atração principal.

Se ver o Cheap Trick (e também o Tesla) me trouxe a sensação de realização naquela noite, nunca, sob nenhuma hipótese, agiria com negligência diante de um show do Deep Purple. Por mais que já tivesse visto a banda várias vezes e por não conseguir ser mais surpreendido. No bom sentido! Mas é fato que já até me familiarizei com as emoções que sinto ao ouvir os clássicos como “Highway Star”, “Black Night”, “Smoke On The Water” e “Perfect Strangers”. Nesse sentido, músicas como “Knocking At Your Back Door”, e a nova “Birds Of Prey”, me proporcionaram o sentimento de dissolução de personalidade na atmosfera de euforia coletiva que tomaram o Allianz Parque de assalto. Como era esperado, pela banda, pelo público, por Tesla e Cheap Trick, e pela produção do show.

O Deep Purple definitivamente mostrou ser uma banda mais sólida que o próprio rock ‘n’ roll. Eu espero que a sua “Long Goodbye Tour” seja mesmo tão longa ao ponto de passarmos a acostumar a não ver mais shows em grandes arenas daqui há dez ou 20 anos.

Fotos: T4F


 
 
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