Fates Warning – Entrevista com Jim Matheos
Postado em 27 de setembro de 2017 | @ 12:35



Outra banda do coração! Ouço Fates Warning desde minha adolescência e estão certamente entre minhas 10 bandas preferidas. Mas sempre preferi a fase progressiva, de 1988 pra cá, em comparação a primeira que é mais voltada ao metal tradicional.

Preferencias a parte, fiz essa entrevista com o guitarrista e líder da banda, Jim Matheos, onde falamos sobre a recente reunião da formação antiga da banda para celebrar os 30 anos do álbum “Awaken de Guardian” além também, é claro, sobre o novo disco, o maravilhoso “Theories Of Flight”.

Já entrevistei tanto o Jim como o Ray Alder (vocalista) várias vezes antes e é sempre muito bom ler respostas de músicos conscientes, com o pé no chão, e que colocam a música à frente do ego. Afinal, são poucos que assumem que sua banda é “underground” e que tem “limitações de seguidores”. E estamos diante de um dos criadores do Metal Progressivo. Só isso!

Eliton Tomasi – Jim, vocês acabaram de lançar o novo DVD/Blu-ray, “Awaken the Guardian Live”. Há também uma versão em CD ao vivo. Esses lançamentos já estavam nos planos quando vocês decidiram reunir a formação antiga da banda para comemorar os 30 anos de “Awaken the Guardian” ou as coisas funcionaram tão bem que o projeto cresceu agora?

Jim Matheos – Na verdade já tínhamos decidido isso antes dos shows de 2016 nos festivais Keep It True e no Prog Power. Desde então sabíamos que filmaríamos e gravaríamos os shows para um lançamento ao vivo. Foi a maneira que encontramos para comemorar o aniversário de 30 anos do “Awaken the Guardian” e dar algo em retorno aos fãs que mantiveram esse disco vivo por tanto tempo.

Eliton – Aliás, você considera o Fates Warning do período 1984-1986 uma banda diferente do atual Fates Warning?

Jim – Essa é uma pergunta difícil para mim. O Fates Warning tem sido uma parte importante da minha vida pelos últimos 30 anos e durante esse tempo nunca houve um só momento em que a banda não fosse minha prioridade. Eu prefiro olhar para a banda como uma entidade única de eras distintas. Mas eu entendo perfeitamente que algumas pessoas vejam essas duas fases como bandas diferentes. Isso não me incomoda.

Eliton – Você acha possível que as duas formações possam coexistirem ou mesmo que o Fates Warning atual possa tocar material antigo?

Jim – Não. A reunião para o “Awaken the Guardian” foi apenas com esse propósito, de reunião, de dar uma chance a antigos amigos de se reconectarem e tocarem músicas que tem um significado especial para nós e para os fãs desse álbum.

Fata Morgana de “Awaken The Guardian Live”:

Eliton – De volta lá em 1986, você se lembra que momento foi crucial para que seu interesse por música, e consequentemente sua visão enquanto compositor, tornasse menos “metal tradicional” e mais progressiva?

Jim – Foi um processo gradual. Nós sempre fomos influenciados pelo som pesado das primeiras bandas progressivas. Na medida que nos desenvolvemos como compositores e nos tornamos músicos mais seguros, as influencias mais desafiadoras ganharam espaço na nossa música. Foi um desenvolvimento muito natural.

Eliton – Ao lado do Queensrÿche, o Fates Warning é um dos inventores do Progressive Metal. Artisticamente, o que isso significa para você?

Jim – Já ouvi isso antes. Na verdade não significa nada além do que apenas um bom elogio. Eu também já ouvi muitos comentários negativos. Eu não me apego a nenhum dos dois.

Eliton – “Theories Of Flight” é um disco brilhante. Para mim poderia facilmente figurar entre os maiores clássicos do Fates Warning de todos os tempos. Como manter-se criativo, honesto e artisticamente relevante depois de mais de 30 anos?

Jim – Bem, obrigado por isso! É sempre um desafio. Eu não garanto nada quando começamos a compor. Eu não quero decepcionar os fãs, meus parceiros de banda ou a mim mesmo. De forma que eu não procuro por atalhos no processo, mesmo nos momentos de frustração e de falta de produtividade. Para mim é apenas uma questão de se manter conectado, tentar ser consistente e não exigir muito de mim mesmo quando as ideias não surgem.

Eliton – O mercado da música mudou radicalmente desde quando vocês começaram em 1982. Não há mais tanto dinheiro investido nesse tipo de negócio. As somas milionárias de vendas de LPs e CDs ficaram no passado. Como é para uma banda como o Fates Warning sobreviver financeiramente nos dias de hoje? O Frank Aresti (ex-guitarrista) teve que deixar a banda por conta de seu trabalho regular na Dunlop. Qual a situação nos outros integrantes nesse aspecto?

Jim – Nós sempre temos que nos manter ocupados fazendo o máximo de coisas possíveis, projetos paralelos, sessões de gravações, etc. Nós sempre tentamos manter o Fates Warning como nosso foco principal, mas como você disse, é bem difícil sobreviver de música hoje, especialmente para uma banda underground como a nossa. Então estamos sempre fazendo o máximo para complementar a renda que temos com o Fates Warning.

Eliton – O lado bom de não ter a interferência do mercado na música é que ela não é mais transformada em mero produto. Não há mais uma indústria produzindo música em série para atender uma determinada demanda. Isso pressupõe mais liberdade artística, uma vez que não há interferência externa. Você acha que a música feita hoje pode ser mais autêntica, livre das imposições de mercado?

Jim – Humm, essa é uma boa pergunta. Sem pensar muito, minha resposta seria não. Eu acho que houve muito mais liberdade e experimentação para romper barreiras nos primeiros anos do heavy/prog. Muito do que eu ouço hoje parece ser facilmente definido em categorias. Infelizmente parece ser o caso da maioria das bandas de metal progressivo.

Eliton – O audiovisual está se fortalecendo enquanto plataforma ou formato de distribuição de música. Se há alguns anos o Metallica brigava contra a Napster, hoje eles postaram no Youtube um clipe para cada uma das faixas de seu novo disco. O Youtube e a música ao vivo são o futuro?

Jim – Com certeza muita gente está distribuindo sua música dessa maneira. Eu mesmo devo admitir que frequentemente ouço música no Youtube enquanto trabalho – agora, por exemplo! É muito conveniente. Infelizmente não é um modelo de negócio tão válido no que se refere a distribuição de renda com o artista.

Eliton – Jim, para terminar, gostaria de saber se há alguma previsão de uma nova turnê pelo Brasil?

Jim – Nós adoraríamos voltar o mais rápido possível. Novamente, essa é uma questão de negócios. Para que isso aconteça nós temos que encontrar um produtor de boa reputação que nos faça uma proposta. Infelizmente, isso é muito difícil para uma banda com limitações de seguidores. Mas vamos continuar tentando.

Mais Informações: http://fateswarning.com

Assista os dois vídeos lançados para Theories Of Flight:

 
 
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