Intervenção Cultural Já!
Postado em 02 de junho de 2018 | @ 19:11


“Quando vejo um jovem defendendo a volta dos militares, me vejo fracassado como professor de história” – Leandro Karnal.

Sem desconsiderar, veementemente, o erro da produção ao tentar realizar um show internacional numa casa sem o devido alvará para funcionamento, mas foi com perplexidade que, ao sair do Mineiro Rock Bar em Osasco/SP nesta última sexta-feira, dia 01 de Junho de 2018,  avistei três viaturas da Polícia Militar, outras duas da guarda municipal de Osasco e um grande efetivo de policiais. Toda essa mobilização, digna de uma grande operação, apenas para cumprir uma ação de embargo das atividades em andamento, no caso o show do grupo inglês Grim Reaper, ícone da NWOBHM, e de outras quatro bandas de abertura: Setenciador, Álcool, Tenebrario e Sweet Danger.

O Tenebrário estava no meio do seu set quando a apresentação foi extraordinariamente interrompida. A principio o público pensou se tratar de problemas técnicos, já que nenhum comunicado foi feito ao público. Já havia se passado um longo tempo quando a verdadeira razão da interrupção estava sendo transmitida pelo e entre o público: a casa não estava com alvará de funcionamento em dia e o show seria interrompido. Algum tempo depois, com a manifesta frustração do público, a produção subiu ao palco dizendo que o show do Grim Reaper seria transferido para o dia seguinte, sábado, 02 de Junho, às 19hs. Foi reservado o direito de devolução de dinheiro àqueles insatisfeitos, o que a casa cumpriu, pelo que pude constatar.

O público deixava a casa de forma ordeira, sem nenhuma manifestação acalorada, muito menos violenta, a não ser por um pequeno período de pânico quando houve coação policial sob ameaça de lançamento de bombas de gás lacrimogêneo dentro da casa para evacuação forçada do público.

Além da frustração de não ter visto o show do Grim Reaper – e o set completo do Tenebrario,  além do show do Sweet Danger que fecharia a noite –  me senti desrespeitado pela polícia. Deixar a casa e visualizar tamanho efetivo policial, me fez sentir um criminoso. Me fez refletir sobre as incontáveis vezes que fui abordado por policiais na rua só por ter cabelo comprido e vestir roupas pretas. Tantos anos se passaram desde a primeira vez que vivenciei essa experiencia humilhante e nada mudou. Assuntos bastante relevantes na contemporaneidade como a igualdade de gêneros, o combate ao racismo e a homofobia, nos dão apenas uma falsa sensação de um nível intelectual e cultural mais elevado. Para todas essas questões, a retórica é o limite.

Em tempos onde parte da população pede por intervenção militar, o ocorrido neste dia 1 de Junho foi um apetitoso aperitivo. Se precisamos de algum tipo de intervenção, a única justificável seria a de uma intervenção cultural. Não apenas no sentido de intervenção das artes, mas uma intervenção no sentido antropológico de cultura: a cultura como instância onde o sujeito realiza sua humanidade.

Imagens do efetivo da PM e da Guarda Municipal na frente do Mineiro Rock Bar na noite do dia 1 de Junho de 2018

 

 

 

 
 
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