Steve Hackett – Espaço das Américas (São Paulo/SP) – 22 de Março de 2018
Postado em 24 de março de 2018 | @ 19:38


Por Eliton Tomasi

Eu amo rock progressivo! E amo o Genesis.

Já tinha assistido o Steve Hackett em Março de 2015 com aquele repertório fantástico só de músicas do Genesis. Poderia assistir esse show todo fim de semana sem enjoar! Imagine então perder um novo show do Steve Hackett depois de três anos! Nem pensar! Ainda mais porque a proposta dessa nova turnê, além de revisitar o Genesis, também prometia músicas da carreira solo e do GTR, projeto ao lado do Steve Howe do Yes.

Para quem já foi num show de rock progressivo sabe que a atmosfera é diferente se comparado a um show convencional de rock ‘n’ roll. Geralmente a configuração da plateia é sentada, a faixa etária do público é mais alta, assim como o nível social.  Não podemos generalizar e dizer que esse é o perfil do fã de rock progressivo, mas bem que mais shows desse segmento poderiam ser produzidos através de políticas públicas de cultura e disponibilizados de graça para a população. Sem o entrave econômico do ingresso e até mesmo de espaços elitizados (que são causa de constrangimento para muitas pessoas), o perfil do público certamente seria mais diversificado. Eu mesmo já produzi shows do Focus, CIRCA (com Billy Sherwood e Tony Kaye), entre outros, através de parcerias com o poder público e com entrada franca, e são nessas ocasiões que você percebe que qualquer estilo musical, mesmo o rock progressivo – classificado por Peter Gabriel como “antiquado” – poderia ser mais popular.

O que o fã de rock progressivo tem em comum, independente de idade ou classe social, é o desejo de assistir ao show com o máximo de atenção possível. De forma que não há espaço para muitos assobios ou gritos. Até mesmo os celulares, protagonistas nas plateias contemporâneas, são deixados um pouco de lado. Cada momento é precioso.

Foi nesse ambiente calmo, quase bucólico, que baixaram-se as luzes e o mestre e sua formidável banda entraram em cena com “Please Don’t Touch”, faixa-título daquele que, para mim, é o melhor disco solo de Steve Hackett, lançado em 1978, há 40 anos.

Em sua primeira comunicação com o público, Hackett, em português, desculpou-se pelo sotaque carioca e prometeu se esforçar para falar com sotaque paulista durante a noite. “Behind The Smoke”, do seu mais novo disco, “The Night Siren”, lançado ano passado, foi então apresentada. Cabe aqui destacar a produção criativa de Hackett frente a seus outros ex-companheiros de Genesis. Hackett é disparado o mais relevante músico, mesmo que não seja o mais popular. Aos 68 anos de idade continua produzindo e lançando discos que justificam suas turnês, sem se apoiar totalmente ou abrir mão do passado.

Passado esse que inclui coisas geniais como o já citado GTR. Desse disco tocaram “When The Heart Rules The Mind”, descrita por Hackett como “pop song”. Ah, quisera eu que toda música pop produzida no mundo fosse assim!

Para cantar a maravilhosa “Icarus Ascending”, outra de “Please Don’t Touch”, sobe ao palco o extraordinário vocalista Nad Sylvan que, podemos dizer, ganhou o posto de co-protagonista nos shows de Steve Hackett. Não há muito tempo publiquei aqui uma entrevista com ele: https://www.valhalla.com.br/website/nad-sylvan-capitao-do-proprio-navio/

“Shadow of the Hierophant”, do clássico “Voyage of the Acolyte”, o primeiro disco solo de Hackett lançado em 1975, foi a última música do setlist antes do momento que é sempre o mais aguardado.

“Dancing With the Moonlit Knight”, do “Selling England By The Pound”, foi a primeira do Genesis na noite. “Fazer parte do Genesis foi muito especial. Éramos um grande time e fizemos uma música complexa e bonita. Eu gostaria de uma reunião, mas, até onde sei, não há planos para isso”, disse o músico em entrevista para o jornal O Globo.

Não há necessidade de reunião enquanto Hackett estiver vivo e com saúde para fazer turnês com sua banda. Sua presença e lucidez, somada ao vigor de músicos mais jovens, permitem que as músicas do Genesis sejam executadas como eram originalmente, sem adaptações que as vezes são necessárias considerando a limitação imposta pela idade a alguns músicos. O Yes fez/faz muito isso.

“One For The Vine” é uma de minhas preferidas do Genesis e particularmente esse momento foi o mais marcante para mim em todo o show.  Mesmo que a noite ainda reservasse “Inside And Out”, a etérea “The Fountain Of Salmacis”, “Firth Of Fifth”, “The Musical Box”, “Supper’s Ready” e o encore com “Los Endos”.

De fato, eu amo Genesis. E amo Steve Hackett. E sua banda.

Fotos: Susi dos Santos
Para ver mais fotos, acesse: https://goo.gl/vvcSXF

 

 
 
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