O rock não morreu, mas envelhece comigo e com você.
Postado em 16 de julho de 2018 | @ 15:28


Há tempos venho constatando a falta de jovens nos shows de rock e heavy metal e o gradativo aumento da faixa etária do público. As razões poderiam ser muitas. As soluções também. Mas talvez a mais importante seja entender que se os jovens não ouvem ou comparecem a shows de rock e heavy metal é simplesmente porque não se interessam pelos estilos.

Responsabilizar o jovem por essa falta de interesse é no mínimo uma demonstração piegas de saudosismo. É repetir o mesmo discurso dos nossos pais: “essa juventude está perdida”. Quando jovem, eu adorava estar perdido e o heavy metal ajudou a me encontrar. Vivi minha adolescência entre o fim dos anos 80 e começo dos anos 90 e vi surgir grupos como Guns ‘N’ Roses, Faith No More, Alice In Chains, Pantera, Dream Theater, etc. Quando assisti os clipes dessas bandas na MTV, eu tive, pela primeira vez, a percepção de identidade. Daquele momento em diante eu sabia quem eu era. Hoje, aos 40, continuo sendo o mesmo roqueiro adolescente dos anos 90. Com algumas responsabilidades a mais, mas com o mesmo espírito jovem. E isso me mantém vivo. Isso me faz ter vontade de viver! Nunca velho demais para o rock, esse é o lema, certo?

Mas e os jovens de hoje? Por que o rock e o metal não falam mais com eles? Penso que eu e você nos apegamos e nos apropriamos de tal forma desse rock e heavy metal que não permitimos qualquer mudança para além dos limites identitários que o fazem ser como o conhecemos e como nos conhecemos na relação com ele. Se é para surgir uma banda nova, ela tem que soar como as bandas antigas. Se é para ter uma banda só de meninas sul-americanas, elas têm que tocar thrash metal ao estilo dos anos 80. Mesmo quando se propõe ao presente, ao desconhecido, o rock e o heavy metal se projetam ao passado.

Às margens de questões estético-musicais, o rock e o metal são movimentos culturais com uma enorme capacidade de lidar com as angustias humanas. Talvez o principal deles! No rock/metal, a poesia é igualmente bela quando descreve um dia cinza ou ensolarado. Não foi a toa que o Nirvana foi o símbolo de uma geração. Cheirava a espírito adolescente! E os jovens que cresceram nos anos 80 odiaram o Nirvana porque eles representaram a nova ordem do rock naquele momento. Mas o jovem de 2018 não tem mais o mesmo cheiro do jovem dos anos 90. Nem dos anos 2000.

Propagaremos aos nossos filhos e descendentes a educação que recebemos de nossos pais que achavam que estávamos perdidos quando não pensávamos como eles, ou tentaremos entender como pensam os jovens e quais são suas angustias – que no fundo continuam sendo as mesmas que as nossas, transformadas em novos idealismos? Definharemos em nossa própria incapacidade – originada no medo – de se lançar ao novo, ao desconhecido, e morreremos abraçados com o rock e o metal a tira colo ou deixaremos esse movimento cultural livre para encontrar a juventude contemporânea e assim imortalizar-se num eterno ciclo de auto redescobrimento?

 
 
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